15.3.11

Bastava que amadurecessem.
E se desesperavam, gritavam, choravam.
Temiam ter suas peles retiradas.
Eram cortados.
Sangravam, sangravam, sangravam.
Eram jogados em água fervente
e afogavam-se em seu próprio sangue, até ficarem no ponto.
Desistiam da vida.
Prontos,
eram derramados por sobre o prato, naquele dia, de macarrão.

[tomates]
30.01.2011

17.9.10

No final de tarde na praia, o vento gostoso vindo do mar parecia trazer a noite, pintando de azul-escuro o céu claro do dia todo e dando brilho às estrelas e acendendo a lua, lá no alto. Os corpos apertados um contra o outro no tecido macio da rede branca, fazia coração pulsar sobre coração e pêlos roçarem-se em pêlos, unindo-se e trazendo-lhes o desejo da carne, do gosto do sal da pele misturado aos líquidos vindos do prazer a dois - de dois que tornam-se um. Como numa dança, conheciam-se. Olhavam-se, tocavam-se, beijavam-se. Reconheciam-se. Cada milímetro do outro era belo e cada segundo daquele momento, importante. Tinham sede um do outro.
E bebiam-se.


29.07.2010

O desejo de ir em frente batia a porta da casa de sua coragem. Abriu-a e convidou-o a entrar. Conversaram, olharam-se e sorriram-se. Deixando-se ser levado pela lábia deliciosa e convidativa do desejo, permitia-se, cada vez mais, seguir. E seguiu. O desejo o levou para fora da casa, de onde não saia há longos e lentos dias quentes, daquele verão. Algum tempo depois, o desejo apresentou-se em sua verdadeira identidade, como disse ele. Chamava-se ‘amor’.

13.07.2010

Quando acordava, abria a porta da varanda – que sempre fazia um barulho – punha os joelhos no chão e agradecia por mais um dia. Fazia isso diariamente. Mas, por mais que esse ritual parecesse rotineiro, era sempre diferente. Lá no prédio da frente, a luz do sol parecia ser refletida nos vidros de uma varanda diferente a cada dia. E quando o dia amanhecia chuvoso, os tons de cinza eram sempre variados. Tinha de ter alguma mudança, por mínima que fosse, tinha. E ele percebia.


11.nov.09

19.5.10

De minha casa, sou o dono
De meu castelo, sou o rei
Do meu terreiro, sou o santo
Do bar da vida, sou freguês.

Dez.2010

Vivia espalhando os panos e desfazendo planos. Existiu, assim, pelos cinco longos e últimos meses dos dois, tão breves, anos. Até que chegou a hora de refazer os planos, juntar os panos e ir embora. Enxugou os olhos, pôs os óculos e foi, sem, sequer, olhar para trás. Partiu em busca de outros brilhos, gostos, lugares; saiu em busca de outras tintas, palavras, portas, vozes, paisagens. Seguiu, enfim, à procura de outros corações a serem tocados, de outros corpos a serem sentidos, de carinhos renovados; de novos cuidados. Era chegada a hora de sonhos diferentes, de sonhar novamente. E sonhou. Panos, planos, longos, rápidos, olhos, outros, tocados, sentidos, renovados: renovado. E não mais, apenas, existiu – ele, agora, vive.

18.maio.2010

Via todos os itens de sua lista de coisas bonitas reunidos e materializados em uma só pessoa. Foi essa a pessoa a quem ele escolheu para entregar o seu pote de amor – desses que todos já nascemos com um. E entregou; o fez sem esperar nada em troca, pois, independente do resultado, sentia-se feliz por dar ao pote uma razão de existência tão especial: toda a lista numa só pessoa...! Isso já era, por demais, encorajador.

dez.2009

Punha estrelinhas no teto do seu quarto, dessas que, quando aquecidas, brilham no escuro; havia também uma lua. Deitava-se em sua cama e fazia, daquele, o seu universo particular.

06.dez.2009

30.4.10

Sob o sol do meio dia, enxugava a testa suada na manga rasgada da camisa desbotada, enquanto, para enganar o estômago que roncava faminto, cantarolava a música que aprendera com a mãe, quando criança; as lágrimas marcavam o rosto empoeirado, desde os olhos até os lábios rachados, onde eram sugadas para dentro da boca seca, sedenta.

O sol ardia.

(17.fev.10)

Dia cinza, melancólico, mas gostoso. Tarde fria, cabeça quente, relógio parado. Gole no café - a fumaça expulsa da xícara listrada, pela minha respiração agoniada, aquece-me a ponta do nariz e me arranca um sorriso. O telefone, calado, cinicamente me olha. A ansiedade aumenta.

(24.fev.10)

A mudez do telefone fazia a tarde parecer mais longa e a tortura da espera mais dolorosa. A cabeça doía. Foi até a cozinha, pôs dois dedos de café na primeira xícara com que se deparou e tentou tomar; sim, tentou. Tentou dar o primeiro gole por duas ou três vezes, não sei bem, mas o choro preso na garganta não o deixava engolir. Cansou de esperar e, para amenizar a ansiedade, desligou o celular e acendeu o cigarro. Melhorou... Mentira! O inferno permaneceu ali, com ele; dentro dele. [...] Não, a tarde não apenas parecia estar mais longa... Ela estava, pensava ele.

(27.01.10)

As persianas fatiavam os raios do sol e
deixavam as paredes de seu quarto
listradas. Ele adorava listras.

(06.dez.09)

Naquele instante, o lugar com cheiro de café era iluminado, apenas, por alguns braços do sol que - apesar de bem claro - havia acordado um pouco frio naquele dia. E mesmo com o som das conversas alheias, ele podia ouvir as páginas do jornal sendo passadas uma a uma pelo senhor da mesa ao lado, enquanto observava através dos janelões de vidro as pessoas passando na rua, até virarem lá na esquina.

(17.nov.09)

Naquele dia, ao ver os primeiros pingos de chuva chegarem ao chão, deixou todas as obrigações de lado, acendeu o incenso e enquanto ouvia a trilha sonora instrumental do filme francês que adorava, fazia desenhos pela casa com aquela fumaça que cheirava a café.

(05.nov.09)

E depois de tanta espera, de semanas intermináveis de aula, de fins de semana de tédio, de ligações cada vez mais cheias de saudade e de riscar xis imaginários em cada dia que se passava no calendário do celular, o cheiro da castanha de caju assando à beira da estrada – enfim – atravessava as janelas entreabertas do carro que o levava ao seu destino. E o caminho ficava mais bonito à medida que se aproximava do lugar mágico, onde ele podia ser o que desejava e onde tudo o que desejava estava ali, ao alcance de suas mãos.

(26.jul.09)

As mesmas vozes vindas das mesmas bocas, nos mesmos lugares, falando obre os mesmos assuntos fúteis, continuavam a surtir sobre ele o mesmo efeito: embrulhavam-lhe o estômago e faziam-lhe querer fugir do lugar tão rico de luxo e tão pobre de essência humana, de dores aparentes, de alegrias honestas, de risadas sinceras... Faziam-lhe querer ir embora do lugar tão pobre de educação – má ou boa – mas verdadeira.

(15.jul.09)

O compasso marcado pelas gotas d'água caindo uma a uma do chuveiro mal fechado, parecia marcar os segundos de um relógio cujas horas teimavam em não passar. O roer das unhas testemunhava a tamanha ansiedade alimentada pela espera de algo que não sabia o que era. Sentia medo.




(15.jul.09)

Ele adorava andar olhando os rostos das pessoas desconhecidas e imaginando o que estas pessoas estariam pensando naquele momento. Era sempre um mistério. Isso o torturava e o satisfazia.


(11.nov.09)

E sob a luz do quarto pouco iluminado,
enxergava o teu sorriso, apenas.
Nada mais.


(17.nov.09)

E sempre que estavas por perto, o céu não parecia distante. Era só eu esticar um pouco as mãos e podia sentir as nuvens passeando e brincando por entre os meus dedos.


(17.nov.09)

13.4.09

sou sedento de vida.

ando a passos longos porque carrego comigo a idéia de que
assim chego mais rápido aos meus destinos e, com isso,
sobra mais tempo de inventar outros destinos mais pra chegar.


minha avidez pela vida me cansa!
Gosto das três horas da manhã porque é quando
tenho a sensação de que o mundo pára em silêncio.
Isso me permite ouvir a respiração de Deus.

17.9.08

Nunca houve tão perfeito encaixe de corpos amantes
E tão saboroso líquido salgado de pele a molhar-me os lábios,
Chegar-me a língua e, por último e não menos importante, aos pensamentos. Estes, por sua vez, pecadores conscientes e não arrependidos dos atos realizados e alisados por tão suaves e insaciáveis mãos minhas, tuas, mãos nossas.. nesses movimentos que me levam, me mostram e me provam a existência de outro plano, de outro pano a ser molhado por nosso prazer.. que me levam a existência de outro eu, tu, nós.. existência de outro mundo, talvez outros.. mundos nossos, só nossos: teu e meu,

amor!

31.7.08

, porque tenho acordado romântico, esses dias!

borboletas cruzam nossos caminhos e as luas parecem estar mais cheias. e as ruas mais calmas e os passos mais l e n t o s. e as palavras mais doces e os olhares mais sutis. e os sorrisos?! HAHA esses ficam giganteeescos! e as pernas teimam em tremerrrR, fazendo disso seu equilíbrio! pode?! as horas se multiplicam enquanto estamos distantes. e quando, enfim, nos encontramos, elas (as horas) se transformam em segundos. ou melhor, em milésimos deles..!

é quando se percebe o sentido uno de tudo: o amor!
(não levando - neste (con)texto - pro sentido geral da palavra,
e sim pro sentido de amor de amantes, mesmo. sabe?

sim, estou amando!

mais uma prova?
meus dias têm cheirado a chocolate!

.

3.7.08

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Sob a luz do candeeiro,
teu doce olhar gritava
A ânsia desesperadora de juntar-se aos olhos meus.
[...]
O brilho vindo de tão doce olhar
Fazia-me oscilar entre o ir e o ficar,
O agir e o parar,
O berrar de vontade, de desejo, de gostar. Gostar..!

E poder, enfim, amar!]

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